Nem Tente

Nem Tente é uma performance criada a partir de poemas de Charles Bukowski, seus poemas são pré-textos para a criação da poiesis de Nem Tente. Uma teia de enunciações e sentidos que emergem dos inúmeros elementos que compõem a performance, especialmente o corpo e seus estados, gestos, movimentos e suas interações com esses elementos, a música ao vivo, as projeções, e outros mais. Essa tessitura de expressões propõe um constante ato de criação e diálogo entre si e com o público, que se torna coautor da energia gerada na ação.

Não existe uma fábula a ser contada, as cenas são “paisagens” cênicas que falam de temas universais, como as angústias humanas, o enfrentamento com as convenções e normas sociais, o embrutecimento do ser humano, a luta cega pelo poder. Nem Tente procura refletir sobre os pensamentos e atitudes do homem comum, manipulado pelo sistema político/econômico, as mazelas humanas, a crueldade da guerra, a hipocrisia social, a alienação. Nem Tente potencializa a frase "se vai tentar, vá até o fim, do contrário, nem comece", onde a violação do estado atual das coisas, alvos de críticas e reflexões do autor, emerge e reverbera por todos os corpos presentes.

O Totem, dirigido por Fred Nascimento e Lau Veríssimo, é um velho conhecido do circuito experimental-alternativo não só de Pernambuco, mas também de outros
estados, o grupo começou a abrir sua trilha performática há 26 anos, e viola livremente as fronteiras das linguagens artísticas. O Totem investe numa pesquisa de linguagem, que tem a mistura e a colagem como princípios de construção, o que acaba causando rupturas em relação ao modus operandi teatral, suas proposições cênicas reflete uma recusa da autoridade patriarcal do texto, numa contundente crítica às hierarquias e centralizações.

A ausência da literatura tipicamente teatral em suas performances e espetáculos abre novas possibilidades e sutilizas de comunicação. Seus trabalhos não passam pelo lógico, e sim por uma comunicação transversal, de dilatação da perspectiva do que venha a ser um entendimento por parte do público. Em suas performances instauram-se encruzilhadas entre a poiesis e a mimeses, entre a arte e a vida, entre performers e plateia.

Com Nem Tente o Totem trás suas inquietações sobre questões subjetivas, assim como com os problemas políticos, levando o público a refletir sobre a realidade e a necessidade de sua transformação.